O livro para não se gostar de ninguém – O Rei do Inverno

 01 de setembro de 2021

              

    O título da postagem é um pouco sugestivo, certo? Hoje vim falar de minha primeira experiência com ficção histórica, o livro Rei do Inverno, da trilogia Crônicas de Arthur do Bernard Cornwell.

     Hoje no caso, não irei fazer uma análise muito profunda dos acontecimentos históricos do livro, mas acabarei falando de alguns spoilers do enredo que podem vir a ser pertinentes se você ainda não leu. 

     É um livro fantástico, de leitura um pouco maçante se você não estiver com a cabeça muito descansada e com certeza não foi feito para simpatizar com nenhum dos personagens além de talvez o próprio protagonista, Derfel, ah, e o Galahad, é impossível desgostar desse princeso neste primeiro volume.

   Bem, Rei do Inverno é um livro que conta a história do Rei Arthur, mas diferente de muitos outros livros da temática o autor decidiu deixar como narrador e protagonista o Derfel, um personagem que nunca existiu em outras lendas arturianas e aqui no caso, trabalha como guerreiro de Arthur, o que particularmente achei genial da parte do autor, porque abriu a liberdade dele trabalhar a história e a personalidade dele do jeito que quisesse. Até porque, seria muito difícil fazer uma narração em primeira pessoa do Arthur sem escutar dos fanáticos arturianos coisas como “Arthur nunca faria isso, Arthur nunca diria aquilo”.

                Para mim o livro tem alguns pontos muitos prazerosos da leitura.

     O primeiro ponto que é o que mais falam quando você procura por essa série, são as batalhas. Não é um livro para aquecer muito o coração com cenas bonitas e romances épicos, a Britânia estava em constante guerra entre si e entre estrangeiros naquela época. E quando eu falo de batalhas, não são umas que aceleram o coração com magia e bravura, é um realismo trágico, elas são sempre citadas como ponto alto do livro porque são reais e desesperadoras, como sentir a morte e o gosto de sangue na boca, como parar para pensar “caralho mano, que época terrível, terrível de se viver”, ou “que morte horrenda que tantos enfrentaram lá”, porque apesar de Arthur não ter existido como a lenda fala, você sabe que se houve um dia um herói chamado Derfel lutando nessas guerras, foi isso que ele sentiu e viu.

     Outro ponto que me fez gostar muito do livro foi a verossimilhança, é muito normal autores comerem um pouco de bronha quando a gente fala de manter você dentro do ambiente proposto. Um exemplo de outro livro que estava lendo, um universo fantástico com sua própria mitologia e história, e do nada o personagem me solta um “Que inferno”, e um pouco daquela magia se quebra porque não existe cristianismo naquele mundo, então logo não existe inferno, por que o personagem falaria isso?

    Cornwell não deixa uma única ponta solta nessa questão, não há nada nesse livro que te traga de volta pra sua realidade, tudo nele, mesmo o detalhe mais desprezível lhe faz sentir naquela época, ele nem tenta amenizar cenas de sofrimento ou sanguinolência, porque era assim e pronto.

    O que entra numa coisa que para mim foi bem desconfortável no começo do livro, o papel da mulher na época, aqui e a li um estupro, aqui e ali um sofrimento entrelinhas das personagens femininas. Até de Arthur, que até é possível no começo gostar um tico, depois está falando que tanto faz o que a Ceinwyn quer, que ela só serve pra ser um casamento político com quem ele achar melhor.

    Meu namorado sabe o tanto que eu critiquei esse livro no começo, xinguei até a décima quinta geração que o Cornwell pode vir a ter, mas então, depois de um tempo eu respirei fundo e comecei a reparar as nuances que ele tentou colocar no livro para dar uma voz mínima para algumas personagens, como Ladwys marchando com Gundleus, Guinevere deitando e rolando e principalmente todo o poder que cerca Nimue, lógico, ainda acontece coisas horríveis com elas e de forma alguma é agradável eu mulher ler uma coisa assim, mas também não fica parecendo que elas estão jogadas lá só para fazer esse papel de chocar na base do estupro. A realidade é que o mundo era muito infernal para mulher mesmo, mais do que é hoje, e acredito que era raro na época uma mulher conseguir qualquer respeito um tico maior como Nimue conseguiu usando religião.

    E o jeito que a religião é tratada nesse livro também é muito legal! Ver a mescla do druidismo enquanto o cristianismo tenta crescer pelas bordas foi interessante demais. As coisas que eles faziam, como colocar comemorações na mesma data e aturar que rituais fossem feitos juntos para aos poucos ir caçando fiéis.

    Outro ponto e o último que vou citar nesse vídeo, no qual é o motivo do título do vídeo é a dificuldade de gooooostar de algum personagem, todo mundo parece um tanto desprezível, o que também dá um senso de realidade pro livro. Claro, tem exceções, mas poucas, quando o Arthur aparece eu fiquei animadíssima e apaixonada, mas isso pode ser reflexo da própria ilusão que Derfel tinha dele, conforme o livro avança você sente ele como um cara bem teimoso e um pouco chatinho. Acho que as maiores exceções são o próprio Derfel e o Galahad. Inclusive, eu que comecei o livro esperançosa em me apaixonar pelo Arthur acabei arrematada pelo Galahad. Já dos piores personagens para mim com certeza foi Gundleus, Lancelot e sim, Merlin. Acho que eu tinha idealizado muito o Merlin de histórias mais adolescentes e infantis e aqui achei ele terrivelmente terrível, um grandíssimo filha da puta e pé no saco.


Sobre Ingrid Boni

Viciada em livros do mais diversos tipos. Porém especialmente apaixonada por fantasia e ficção histórica.

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