27 de janeiro de 2022
Eu nunca tinha ouvido falar deste livro lançado em 2011 até que popularizou no Tik Tok. Em um primeiro momento achei que tinha popularizado por ser uma obra boa escondida pelas centenas de lançamentos durante os anos, mas na verdade ele voltou em pauta pela representatividade LGBTQIA+, o que para mim o livro nem fez isso direito.
Geralmente quem
frequenta Tik Tok é um pessoal mais novo, e para eles era surpresa que um dos
nomes mais importantes das histórias gregas era gay. Aquiles e Pátroclo eram
gays, ou bissexuais, nunca ficando exatamente claro isso. E para os leitores
mais novos isso foi o suficiente para tabelar Canção de Aquiles como digno de
leitura, mas meu deus, que livro ruinzinho.
O grande problema desde
livro para mim começou com a expectativa já que na capa da versão que eu
comprei veio escrito “aclamada releitura de Ilíada”, então já comecei a pensar
que o livro faria jus realmente a uma modernização da história que não é nada
acessível em questão de linguagem. Ilíada pode ser um livro fantástico, e mega
importante, mas ele não é DIVERTIDO de ler, principalmente na primeira vez,
tanto pela construção, quanto pela linguagem, e é raro ver um jovem atualmente
se interessando em ler esse tipo de literatura, por isso acredito que está mais
que na hora que obras assim passarem por uma “repaginada” no sentido de se
tornarem acessíveis, e era isso que eu esperava de Canção de Aquiles, mas o que
recebi foi uma fanfic mal pensada.
Canção de Aquiles
mostra Patróclo e Aquiles desde pequenos até o momento que vão para a Guerra de
Tróia, com as então já conhecidas tragédias. A história adiciona detalhes
anteriores ao Ilíada original para dar mais apego emocional a história de ambos
e ai tudo começa a desandar.
Os acontecimentos são
quase os mesmos e foram escritos sem importância narrativa, como se estivessem
ali só para incrementar o romance dos personagens, o que para mim já
consideraria motivo o suficiente para não se chamar de releitura já que o foco
da autora estava totalmente no romance. Para não causar falsas esperanças no
leitor interessado em histórias gregas, o livro devia ter sido tabelado como
“adaptação romântica de Ilíada”.
E bem, falando dos
personagens, tudo estava terrível. Houve uma descaracterização muuuito forte na
personalidade original dos dois, mas principalmente de Pátroclo, o que fez a
história parecer uma fanfic yaoi ruim e até certo ponto, preconceituosa.
Talvez fosse super mega
hiper novidade para os jovens do tik tok a relação homoafetiva dos dois
personagens, mas Ilíada foi escrito em IX a.C. e o mundo que estuda sabia dessa relação desde sempre (mesmo que
muitos historiadores conservadores do pós idade média queiram chamar eles de
“grandes amigos”). E só essa relação não é o suficiente para carregar um livro,
principalmente dos que realmente gostam de uma boa narração.
Pátroclo foi um
guerreiro grego tão honrado quanto qualquer outro da época e ele ser o parceiro
do Aquiles não diminuía isso, só que a autora fez isso ser um “BIG deal” quando
não era, criou todo um enredo em cima de ser errado, quando na verdade, na
Grécia naquela época, até vários deuses eram bissexuais. Ninguém queria saber
se você tava dando o cu ou comendo cu, só queria saber quantas cabeças você
cortou, e é exatamente isso que Pátroclo não faz em Canção de Aquiles.
A autora por algum
motivo, tirou tudo que desse o ar de Grécia Antiga e colocou Pátroclo dentro de
um padrão estereotipado de “gay passivo”, um cara gentil que não gostava de
guerrear e matar, que esperava Aquiles voltar da guerra com o coração na mão, como
a boa esposa... E por Apolo, o que foi isso? Mulher escrevendo romance gay
fetichizado é outra coisa né. Por que raios um dos dois precisava ser o passivo
enquanto o outro era o machão cheio de músculo e lutador? Na história de Ilíada
os dois são “brutamontes” do exército grego, os dois são matadores e tem os
lados sensíveis, os dois se amam e não entram em estereótipo.
Outra fetichização é a
etnia de Pátroclo, pelos deuses, os dois eram gregos, Ilíada descreve os dois,
e mesmo se não descrevesse, todas as etnias devem ser respeitadas e se uma
história fala das feições gregas, pra que tacar outra? E a escolha então... a
autora colocou Pátroclo como um moço magro de pele marrom clara... Um gay
passivo de pele negra para ser a boa esposa do loiro alto musculoso... Quem já
leu alguns yaois ruins sabe como isso é bem coisa de autora hétero.
A comunidade LGBTQIA+
do Tik Tok que indicou Canção de Aquiles realmente precisa praticar muito a
compreensão de leitura, porque para mim este livro desrespeitou tanto a obra
original, quanto a comunidade, tuchando uns estereótipos bem batidos e idiotas,
não só nessas coisas que citei, mas em muitos diálogos e acontecimentos dentro
da história.
Por sinal, aceito
indicações de livros da comunidade LGBTQIA+ que realmente sejam bons!
Até a próxima.
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