Escrito por Aline Bei, é um livro nacional que geralmente eu não leria.
Começo a resenha dessa forma porque é verdade. “O peso do pássaro morto” é escrito em forma de prosa poética (sem rimas), e basicamente é aqueles livros que gosto de chamar de “leitura cult moderna”, um gênero que não leio tanto (e ás vezes o público alvo dessas leituras afastam ainda mais os que não tem o costume de ler).
Para exemplificar melhor a forma de escrita vou deixar um trecho abaixo:
“Na escola
em casa
na cozinha
perguntei pra minha mãe:
– o que é morrer?
ela estava fritando bife pro almoço.
– o bife
é morrer, porque morrer é não poder mais escolher o que farão com a sua carne.
quando estamos vivos, muitas vezes também não escolhemos, mas tentamos.
almoçamos a morte e foi calado.
enquanto minha mãe lavava louça fui até a casa do seu luís às escondidas, mas não exatamente
acho que minha mãe ouviu
a porta batendo e que era eu
saindo com os meus 8 anos atravessando a rua olhando
pros 2 lados que meu pai me ensinou Cuidado
e batendo na casa do seu luís
pra perguntar. minha mãe deixou eu ir, deve ser
porque morreu uma menina de oito anos e isso
transformou ter a minha idade em ser adulta”
Na hora que eu folheei eu pensei “carai, não vou gostar disso não” e só iniciei a leitura porque foi o empréstimo de uma amiga que disse que eu iria adorar. Então sentei a bunda na cadeira e matei o livro em menos de uma tarde, primeiro porque ele é bem curto – 168 páginas nessa narrativa curta. E segundo, porque é impossível parar de ler.
Depois das primeiras páginas a narração para de incomodar, você até chega a ler no ritmo que imagina que a mulher principal – que nesta história não tem nome – conta a história.
E o que posso dizer sobre esse livro, sem toda aquela conversa sobre a beleza artística da escrita, é que foi uma das coisas mais marcantes que já li. E uma frase na orelha do livro diz tudo: “Quantas perdas cabem na vida de uma mulher?”
O livro, narrado em primeira pessoa, conta a história de uma mulher dos seus 8 aos 52 anos. E acreditem, nada neste livro é feliz. O único spoiler que irei contar aqui é que a personagem engravida de um estuprador e tudo depois disso na vida dela para de ser sobre sonhos para ser sobre abandonos.
Nunca vi uma forma tão amarga e real de mostrar o desespero da maternidade forçada, o desespero em não saber se consegue amar o filho porque ele é o fruto de algo que destruiu sua vida, o desespero de querer amá-lo porque é seu filho.
A história central gira em torno disso, mas também, nas suas beiradas traz outras perdas que podemos vir a ter em nossa vida. Perdas que tiram nossa vontade de viver pouco a pouco.
Como eu comentei, não é uma história feliz. Acho que nunca chorei tanto lendo um livro quanto chorei neste. E mesmo assim é uma leitura essencial para todos. Deveria até ser uma leitura obrigatória nas escolas. Talvez se mais homens lessem esse livro, ouviríamos menos opiniões toscas sobre aborto.
0 comments :
Postar um comentário