O sentido de criar conteúdo

Esse é um assunto que quero falar já faz um bom tempo. E algumas pessoas às vezes me pedem dica de criar conteúdo, de como ter criatividade e manter a frequência, porém nessa postagem não trouxe dicas, e sim uma análise pessoal e social da criação do conteúdo.


A primeira coisa que todos devem se questionar sobre criar conteúdo é o grande e inevitável “Por quê?”. E como diz nossas mães, “porque sim” não é resposta. Uma vez eu li em um algum artigo social – que infelizmente não lembro nem o assunto e nem quem o escreveu – que as pessoas da modernidade querem ter opinião sobre tudo e principalmente, expor suas opiniões sobre tudo (olá Twitter), por isso é tão atrativo querer fazer uma rede social (seja qual for ela) para falar sobre o que VOCÊ achou e pensa das coisas. Afinal, o que VOCÊ achou é o que importa e pelos deuses, como você precisa gritar isso para o mundo. Como é importante que os outros saibam sua opinião. Quando eu li sobre isso, eu fiquei “congelada”, eu tinha meus motivos para sempre tentar manter uma conta de conteúdo, mas em partes eu também havia internalizado essa concepção, que seria legal dividir minha opinião com o mundo. Porém no decorrer dos anos, e após autoconhecimento, esse virou definitivamente o último porquê. E vou te contar o motivo: não é suficiente e não vai tapar seu buraco neoliberalista (a falsa concepção de que VOCÊ importa) da necessidade constante de atenção do mundo. E não é uma crítica, é um buraco na sociedade que nunca vai se fechar, nem em mim, nem em você. A nossa opinião não importa tanto assim.

Criar conteúdo é desgastante. Em todos os sentidos possíveis e imagináveis. 

• Você lida com pessoas que acham que podem te tratar de qualquer forma porque é virtual;
• Tem que constantemente pensar em algo para postar;
• As redes sociais exigem uma frequência constante cansativa (mesmo o Youtube que é mais “tranquilo” só começa efetivamente a te dar frutos mais legais quando você posta vídeos pelo menos duas vezes por semana; 
• Tirando aquele boom de criadores de conteúdos iniciais, como Felipe Neto, Haru e etc, seu retorno vai ser muito demorado, ou quase inexistente.
• Entrar nesse mundo pode te deprimir ou te desanimar em muitos sentidos. 

Por isso que você vê que a maior parte das pessoas que decidem criar conteúdo não passam de dois anos, seja instagramfacebook ou youtube. Porque o “acho que seria legal dividir minha opinião” acaba se tornando uma bola de neve de frustação. 

Então sim, eu diria que para entrar nessa jornada deve haver um porquê maior, independente de qual seja. E qual for a que você escolher, tem que saber onde está pisando e qual caminho irá construir. Irei comentar um pouco sobre a minha jornada. 

Lembro muito bem como comecei nesse mundo, eu já tinha meu blog de contos fazia algum tempinho e apanhava demais para fazer alguém entrar nele. Sempre tentando publicar e impulsionar algo no Facebook. Mas até aí eu não criaaava conteúdo, só mantinha o blog de escrita. Tinha em torno de 15-16 anos e achava que bastava querer que as pessoas iriam ler o que eu escrevia. Bem, não demorou muito para eu ver que a carreira de escritora seria a coisa mais difícil e cansativa que eu poderia escolher, mas também era um dos maiores motivos da minha existência e eu não desistiria. 

Em 2013 o Felipe Neto lançou o primeiro livro dele – na época ele ainda fazia vídeos de óculos escuros criticando os outros – e o negócio estourou de venda. Acompanhava as maiores vendas de livros e pelos deuses, quando eu via semana atrás de semana o livro dele no topo eu senti muita frustação, mas também decidi naquele momento que eu ia criar conteúdo. Se eu fosse uma “blogueira” de sucesso, as pessoas leriam meus livros. E aos trancos e barrancos fui indo. Claro, muita coisa entrou no caminho, faculdades, relacionamentos, melancolia, trabalhos estressantes, escolhas de público errado; e hoje, 9 anos após aquela elucidação é que realmente estou propensa e preparada para criar conteúdo com afinco e profissionalmente.

O meu porquê é esse. Em um país que valoriza pouco a literatura eu escolhi ir primeiro atrás do público, pradepois entrar na carreira de escrita. E por incrível que pareça, mesmo que aos poucos – ao rastejar de uma lesma – anda funcionando. É esse mantra que me leva a não desanimar com o engajamento baixo ou as tosquices que recebo por DM no Instagram. 

E você, companheiro/a/e, precisa de um mantra. Precisa de um objetivo. 

Você quer ser convidado para eventos da área?

Você quer publicar um livro?

Ganhar dinheiro com Youtube?

Vender um produto?

Então você precisa de um objetivo claro. Não adianta fazer um perfil literário para ver se ganha uns livros, um de mangá para ver se ganha uns mangás. Um de anime para ver se acontece de ser chamado para evento. Aliás, posso afirmar que crescer nas redes sociais traz à princípio mais gasto do que qualquer outra coisa. (Seja de tempo ou de dinheiro). 

Outro exemplo que gosto muito de admirar é de minha irmã. Ela no começo era uma lojista de bijus, e a cada ano o Instagram estava sendo mais terrível com o engajamento da loja, ao ponto que o desânimo era diário. Então ela criou um mantra novo e um perfil novo. Com dedicação e foco o perfil ultrapassou o da loja em engajamento e hoje ela atrai tantas vendas dele quanto do outro. E acho engraçado quem diz que ela mantém o perfil para ser “uma blogueirinha”, quando na verdade o foco dela na profissão de ourives vem sendo o mantra que move o novo perfil. 

Claro, você pode ter um perfil de criação de conteúdo só para dividir sua opinião, mas sinceramente, vai fazer muito bem pra sua saúde mental (além de te deixar com MUITO mais tempo de sobra para aproveitar a vida) se você simplesmente se autoconhecer e entender o que verdadeiramente vale a pena investir. 

Às vezes eu queria jogar tudo para cima, mas ai meu mantra sempre fica na cabeça. Tenha um. Não desperdice seu valioso tempo se você nem pretende levar o negócio verdadeiramente a sério. Dá pra fazer amigos muito legais e conversar sobre coisas que você gosta mesmo sem criar um perfil de conteúdo. Porque, seriamente, sobra muito tempo para nós mesmos quando não estamos preocupados com postagens. E só algo muito valioso para você merece essa perda de parte de sua sanidade e tempo.

Sobre Ingrid Boni

Viciada em livros do mais diversos tipos. Porém especialmente apaixonada por fantasia e ficção histórica.

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