Oie gente, a
matéria de hoje vai ser curtinha, mas com vários spoilers sobre esse mangá
maravilhoso (e destruidor de corações).
Nesta
história, logo no começo, Tomoyo recebe a notícia que sua melhor amiga se
matou, a Mariko, e após roubar as cinzas da amiga, Tomoyo decide que deve levá-las
para serem jogadas no mar, já que Mariko sempre quis passear na praia e nunca
conseguiu.
À
princípio vemos uma história triste sobre amizade, depressão e sobre desapego.
Afinal, a jornada inteira é sobre Tomoyo aceitar a morte da amiga e seguir em
frente, afinal, isso se mostra na cena final na qual aquele estranho gentil
fala para Tomoyo que o mais importante é ficar vivo para lembrar daqueles que
já se foram e cuidar de si mesmo. Porém para mim a história carrega uns
detalhes muito fortes para quem já foi a pessoa que assistiu a depressão de
outra.
E
para mim a amizade de Mariko e Tomoyo foi tudo, menos saudável. Além de
levantar um ponto importante sobre nossas próprias atitudes.
Óbvio,
a história precisava de um ambiente ruim para que chegasse onde chegou, afinal,
se a Tomoyo tivesse chamado a polícia ou tentado recorrer a alguém toda vez que
a amiga apanhava ou era estuprada pelo pai, não teríamos história. E é isso que
acontece aqui, um constante silenciamento de Tomoyo que abre muitas questões em
até que ponto somos capazes emocionalmente e fisicamente de ajudar alguém que
passa por dificuldades.
Acredito
que pelo que é mostrado da própria Tomoyo, fumante desde pequena, sempre
sozinha, é um sinal de que ela também não estava preparada para lidar com tudo
aquilo e ao decorrer dos anos foi cúmplice de toda violência. Estar em silêncio
é ser cúmplice.
E
também vemos o outro lado, a pessoa que dificulta muito ser ajudada, pois
quando as duas são adultas vemos uma cena de Tomoyo expulsando o namorado
abusador de Mariko ameaçando a chamar a polícia (o que não faz) e Mariko ainda
tenta voltar com ele, tem seu braço quebrado e é roubada por ele. Nessa cena
Tomoyo diz que a amiga tem uns parafusos a menos e Mariko concorda dizendo que
é quebrada.
Esta
cena tem tantas nuances fortes que dá até uma agonia. Primeiro o fato de Mariko
escutar tanto que o problema é ela que ela passa a acreditar firmemente nisso,
repetindo um ciclo de decisões erradas, depois Tomoyo num deslize reforçando e
por último não tomando atitude nenhuma com a fala da melhor amiga. Arrastar ela
para uma ajuda clínica nunca sequer passou pela cabeça. Era mais fácil dizer
que Mariko estava além da capacidade de ajuda, que ela não queria ser ajudada.
E realmente, tem pessoas que dificultam muito a ajuda, e Mariko era
aparentemente uma delas, mas Tomoyo também precisava de ajuda.
Até
lá no finalzinho do mangá, em um capítulo extra Tomoyo não entende o pedido de socorro
silencioso de Mariko para ir morar com ela, permitindo que a amiga continuasse
a morar na casa do pai abusivo.
Tomoyo
não estava preparada para ajudar. Ela fala “por que não me chamou para morrer
com você?” e sabe, realmente é algo normal, não sabermos o que fazer, não
sabermos como ajudar, não sermos úteis em erguer a pessoa do poço que ela está, e apesar de não estar tudo bem, é comum. Precisamos sempre nos
esforçar para melhorar, mas nem sempre isso é possível. Tem vezes que reparamos
nossos erros tarde demais e “My broken Mariko” é sobre isso, Tomoyo passa por
uma jornada em suas atitudes em relação a amiga, em nenhum momento vemos um
acontecimento no ponto de vista de Mariko, é sempre como Tomoyo lidou com
aquilo e a degradação que ela foi passando na história conforme relembrava, até
que ela salva uma menina de ser estuprada (ou roubada) usando as próprias cinzas
da Mariko para acertar o bandido. Tomoyo vê na menina a amiga gritando um “Me
socorre!” uma coisa que Mariko nunca disse abertamente e Tomoyo nunca entendeu entrelinhas.
E ela vai lá e salva, e nossa, nesse momento eu nem sabia que conseguia chorar
tanto.
Afinal,
é assim né? Nem sempre somos capazes. Precisamos tentar ser, mas às vezes não
vai. E acontece.
E
quando Tomoyo abre a última carta e fala um “Tá bom” eu chutaria que Mariko
disse para ela não se culpar e seguir em frente. Por que, que culpa Tomoyo tem
que a amiga se matou? Indiretamente todos na história contribuíram um pouco
para isso, mas diretamente a culpa não é de Tomoyo.
E
fica a pergunta da matéria. O que fazer quando não conseguimos fazer nada?
Seguir em frente? Aprender com os erros? É difícil dizer. Mas a história e a trajetória
de Tomoyo mostra que pelo menos não podemos desistir de tentar.
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